A ULTIMA VIAGEM
13/11/2023 06:30 | DURAÇÃO 4:32
Notas do Episódio
Era tarde da noite, quando o taxista recebeu o chamado. Ao chegar, ele pensou em buzinar e aguardar. Mas imaginou que alguém que chamasse o táxi, tão tarde, poderia estar com alguma dificuldade. Saiu do carro, foi até a porta e tocou a campainha. Uma senhora idosa, pequena, franzina, com um vestido estampado, abriu a porta. Equilibrava-se em uma bengala, e, na outra mão, trazia uma pequena valise. Ele olhou para dentro e percebeu que todos os móveis estavam cobertos com lençóis. Ele apanhou a mala e ajudou a passageira a entrar no táxi. Ela forneceu o endereço e perguntou: Podemos ir pelo centro da cidade? Mas o caminho que a senhora sugere é o mais longo, observou o taxista. Não tem importância, afirmou ela, resoluta. Não tenho pressa. Desejo olhar a cidade, pela última vez. Estou indo para um asilo, porque não tenho mais família e o médico me disse que morrerei breve. O taxista, que começara a dar partida, desligou o taxímetro, sutilmente. Olhou para trás, fixou-a nos olhos e perguntou: Aonde mesmo a senhora gostaria de ir? Ele a levou até um prédio, na área central da cidade. Ela mostrou o edifício onde fora ascensorista, quando jovem. Depois, foram a um bairro onde ela morou, recém-casada, com seu marido. Apontou, mais adiante, o clube onde dançou, com seu amor, muitas vezes. De vez em quando, ela pedia que ele fosse mais devagar ou parasse em frente a algum edifício. Parecia olhar na escuridão, no vazio. Suspirava e olhava. Assim, as horas passaram e ela manifestou cansaço: Por favor, agora estou pronta. Vamos para o asilo. Era uma casa cercada de arvoredo e, apesar do horário, ela foi recepcionada, de forma cordial por dois atendentes. Ela se despediu do taxista. Quanto lhe devo? Nada, disse ele. É uma cortesia. Você tem que ganhar a vida, meu rapaz! Há outros passageiros, respondeu ele. Sensibilizado, a envolveu em um abraço afetuoso. Ela retribuiu com um beijo e palavras de gratidão: Você deu a esta velhinha um grande presente. Deus o abençoe. Naquela madrugada, o taxista resolveu não mais trabalhar. Ficou a cismar: E se ele apenas tivesse tocado a buzina duas ou três vezes e ido embora? E se tivesse recusado a corrida, pelo adiantado da hora? E se tivesse querido encerrar o turno, de forma apressada, para ir para casa? Deu-se conta da riqueza que é ser gentil. * * * Por vezes pensamos que grandes momentos são motivados por grandes feitos. Contudo, existem coisas mínimas que representam muito para uma vida. O importante é estar atento, a fim de não perder essas ricas oportunidades de dar felicidade a alguém. Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, uma volta pelo jardim, um bate-papo num final de tarde, atender um telefonema na calada da noite. Estejamos atentos para as coisas mínimas, os gestos quase insignificantes. Eles podem representar, para alguém, toda a felicidade. Redação do Momento Espírita, com base em mensagem assinada por Don Rico e datada de 26.7.2005. Em 22.9.2023.