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Impasse

23/08/2019 16:53 | DURAÇÃO 6:58

Notas do Episódio

A Escolha de Sofia é um clássico que se transformou-se em exemplo de impasse, de dilema a ser resolvido. Sofia vive atormentada pela escolha que teve de fazer quando estava no campo de concentração. Entre todos os horrores pelos quais passou, o pior foi ter de escolher entre seu filho e sua filha qual dos dois deveriam ser mortos. Esta é a escolha de Sofia, uma mãe diante de um grande dilema .... em um documentário, foi proposto um experimento teórico para estudar a lógica da decisão . Imagine que um trem lotado encaminha-se para um precipício, redundando numa queda da qual não restariam sobreviventes. Posicionado em um entroncamento, você pode ativar uma alavanca para desviar o comboio, fazendo-o atingir um pequeno grupo de pessoas. Sua intervenção certamente causaria um número menor de vítimas. Como você agiria? Pesquisas sobre esse dilema mostram que as pessoas agiriam segundo o princípio do "menor dano". Em mais de 90% dos casos os sujeitos apertariam a barra salvando muitas pessoas, assumindo a responsabilidade pela morte de algumas outras. Porém, dizer nem sempre é fazer. Experimentos nos quais é preciso agir - e não apenas declarar as intenções - apontam outro resultado. A convicção em torno de valores, princípios e regras pode se mostrar incrivelmente frágil diante da experiência real. Situações concretas, por sua vez, são muito sensíveis à contagem dos participantes. Sozinhos na situação do trem, você e sua consciência provavelmente tomariam atitude diferente daquela que teriam se houvesse testemunha. Isto nos levam a pensar sobre situações difíceis que precisam ser encaradas de frente e que vamos jogando de mão em mão como se fosse uma batata quente. Alguém espera que alguém resolva, este alguém que resolveria pode ser qualquer um, inclusive Deus, para quem acredita nele. Temos, nos últimos anos aprendido muitos termos, palavras que significam viver ou morrer. Eutanásia, que é a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida. Crime pelo código penal. Distanásia, um prolongar da vida de modo artificial, mesmo sabendo que não há mais esperanças, não há chances de cura. Morte lenta, sofrida. Ortotanásia, que significa morte correta, ou seja, a morte pelo seu processo natural. Neste caso o doente já está em processo natural da morte e recebe uma contribuição do médico para que este estado siga seu curso natural. Conversar sobre isso é difícil, questionar se uma pessoa em coma tem capacidade de ouvir, e se ouve, tem ela condições ou poder de decidir se vive ou se desiste? Prefiro acreditar que sim. Há um apego e um apelo muito grande em se prolongar a vida, mesmo sabendo que não há mais esperanças, mesmo sabendo que o que vem pela frente pode tornar-se insuportável para todos. Então aqui entra a decisão do maquinista do trem. Alguém precisa fazer o papel do maquinista. O inconsciente é composto por figuras que o habitam e é sempre em companhia delas que você terá que decidir. A defesa inócua do criminoso comum é alegar que está em paz com sua consciência. Mas nunca estamos em paz com nossa consciência - ela é feita para nos atormentar, para rever continuamente as consequências, causas e razões de nossos atos. Estar "em paz com a consciência" É, no fundo, não ter consciência. Em seu Projeto de psicologia científica para neurólogos, de 1895, Freud estabeleceu alguns fundamentos para uma lógica da escolha. Em um verdadeiro processo de decisão, temos de comparar situações de tal forma que proposições se formem em nossa consciência. Antes de qualquer escolha há uma espécie de metadecisão envolvendo os caminhos pelos quais a opção pode ser feita. Podemos até estar bem-intencionados, e acreditar que escolha é apenas uma elaboração de pensamento. Mas temos um júri coletivo que será destinatário de nosso juízo. Perguntamos como agiriam as pessoas que conhecemos, amamos ou respeitamos e reciprocamente como seríamos julgados por elas. A diferença entre a verdade do que dizemos e o real do que fazemos emana do fato de que agir compromete, custa. Movendo a alavanca nos tornamos responsáveis diretos pela morte de inocentes. Esperando passivamente que o trem caia no precipício, ficamos em paz com nossa consciência, afinal "alguém" deveria ter pensado nisso antes, alguém da companhia de trens ou da vigilância antiprecipícios. Aqui surgem os dois outros elementos da lógica freudiana da decisão: a angústia e o tempo. A verdadeira escolha nunca é tomada sem a incerteza de um tempo de angústia. Há os que e deixam a alavanca intacta e contam com a teoria neurótica do tempo indefinidamente elástico no qual alguém tomará ou já a tomou a decisão certa por nós. Há aqueles que se lançam heroicamente para a alavanca seguem outra forma de temporalidade neurótica na qual o "alguém" sou eu mesmo livrando-me da angústia de decidir. De uma forma mais simples, vem a pergunta: você é quem decide, ou espera que alguém decida por você? Pense Nisso, mas pense agora.